terça-feira, 27 de outubro de 2009

Assombro

De repente, concentrado estava eu no sujo teclado de meu computador, quando ouço um barulho forte vindo do teto da casa. Algo que parecia uma louca e desenfreada corrida de alguém buscando escapar do maior dos seus medos. Ou querendo apenas voltar para o conforto de sua rotina. Parei meu trabalho e apurei meu ouvido. Silêncio. Baixo a cabeça para trabalhar novamente e junto vem esse estranho barulho. Parece estar dentro de minha cabeça, aumentando como se dessa vez o telhado não fosse aguentar! São coisas da minha imaginação. Tem que ser. De que adiantaria levantar e olhar? Está lá fora de qualquer forma. E não creio que se jogaria para dentro de casa, arrebentando a vidraça, ou abrindo um rombo no telhado. Devem ser ratos!!! Pensamento sem convicção. Aqui não há ratos. Nunca houve pelo menos. Talvez um banho irá resolver. São frutos do cansaço esses ruídos. Do banheiro ainda os ouço, ora distantes, ora perto como se esses passos estivessem agora sobre minha cabeça. Batem pesado nas telhas. Saio do banheiro. Saio de casa. Olhando para o telhado me sinto em um filme de suspense, daqueles que, quando telespectador, me zango com o personagem. Por que saiu? Não sabe que corre perigo? Entre e feche logo a porta seu otário. Primeiro fixo o olhar para cima. Uma lua preguiçosa escapa por entre ralas nuvens. Entre!!! Saia daí!!! Agora esses conselhos imaginários são as únicas vozes em minha mente. Nada de passos no telhado. Nada de correria ou perseguição. Entro e fecho a porta rapidamente. Pra me sentir no filme. Apenas mais uma sessão ilusória! Sei que estão aqui. Apenas dentro de minha cabeça. E agora também soltos nessa fantástica teia de ilusões.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Mastigando a história: Reinventando a revolução

O Karl Marx ( do Scliar), depois de enfrentar uma recessão digna da crise de 29, resolveu pegar o Lula pelo colarinho (em um final de semana) e mostrar-lhe com quantas ondas se faz uma marolinha. Dez da manhã, sábado (desconstruíndo a história oficial), lá vai Marx, cabeça raspada e barba devidamente aparada procurar Luiznácio na Granja do Torto. Estava até disposto a cobrar passagem desde o Rio Grande do Sul. Meia hora de taxi e 35 reais depois, lá estava ele, parado na entrada da Granja, frente a frente com Raimundo. Um tipo graúdo, semblante fechado como baú de solteirona.
- Bom dia, o chefe está?
- Quem?
- O ora mandatário.
- Quem?
- O ex-proletário.
- Hein?
- O barbudinho.
- Ah... O Palocci... Ele não trabalha mais aqui.
- Tô falando do manda-chuva.
- Dona Dilma?
- Escute aqui rapaz, que o homem seja blindado tudo bem. Mas não torra minha paciência. Chama logo o Lula.
- Moço... Por que não disse antes.
- Humpf.
- São amigos?
- Mais ou menos. Já lutamos juntos contra e a favor de ditaduras.
- Vocês sindicalistas são estranhos.
- Eu não sou sindicalista! Sou filósofo. Ou era.
- Igual o FHC?
- Não! O FHC é sociólogo. Ou era.
- O senhor é gaúcho?
- Não. Sou alemão.
- Igual o do Bigue Broder?
- Não. O Orwell era inglês. Ou indiano. Só sei que era socialista.
- Eita. Cara importante. Não me admira ter ido parar na televisão.
- Hã?
- Mas olha moço, não dá pra chamar o Presidente agora não.
- Por que?
- Tá fazendo um churrasco com um pessoal franceis, lá de Paris.
- O que? Quem é?
- Não sei. Um nome esquisito. E um povo mais ainda.
- Por acaso não é Rousseau?
- Não Dona Dilma não tá aí não. E depois acho que ela nem estrangeira.
- Puta que o pariu. Que Dilma que nada.
- Mas agora o moço me dá licença, volta mais tarde. Eu preciso botar mais carvão na churrasqueira nova de vidro que o presidente comprou.
- Ei rapaz!!! Volta aqui!!! Chama o Lula!!!
- Não dá!!! Volta outra hora. Mas eu falo pra ele que o Senhor veio visitar.
- Ei...
Mas já era tarde. Raimundo foi pra churrasqueira. O churrasco do Lula pra história e Marx, com fome, de volta pra casa pensando que poderia ter encontrado dois colegas de luta e passado uma agradável tarde regada a churrasco, caipirinha e filosofia.

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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Memórias em conta gotas - enquanto a inspiração não vem!

Acordei assustado, com água na cara. Abri os olhos esperando encontrar o Moe, ou pelo menos o Didi Mocó me jogando uma balde de água. Mas não senhoras e senhores. Era chuva!!! Chuva na noite seca e quente do cerrado palmense. Dormi com a janela aberta. E olha que estava tendo um sonho interessantíssimo. Aliás, eu adoro sonhar. Não gosto de dormir, mas sonhar é bom. Bem, sonhava que descia um rio que fica perto da casa de meus pais. Estava em uma balsa muito rústica com mais duas pessoas e, como seria previsível, logo o que aparece? Isso mesmo uma cachoeira. Tudo bem, isso está parecendo roteiro de filme antigo do Tarzan. Mas lá estava ela...uma grande queda d’água, suponho eu. Mas o melhor de tudo, foi a surpresa embaixo da água. Apareciam umas enormes pinturas rupestres submersas. Fique embasbacado e quase esqueço de voltar a tona. Mas em sonho vale tudo mesmo. Fiquei olhando as pinturas, até me dar conta que não sei nadar. E aí senti a água no rosto. Tentei chegar à superfície rapidinho e aí acordei no melhor estilo comédia pastelão. De manhã, após os afazeres domésticos e obrigações empregatícias, resolvi contatar um grande estudioso dos sonhos, das broas e das pinturas, o professor, confeiteiro e arqueólogo Benigno Cava Rocha. Depois de lhe expor os acontecimentos noturnos, ouvi atentamente suas explicações. Disse que sonhos só funcionam com doce de leite como recheio. Que as broas têm um segredo que não quis me contar, já que é segredo mesmo. Sobre as pinturas, disse que sempre achou a arte rupestre fascinante enquanto forma de comunicação, mas desistiu de buscar entendê-las aos 75 anos, depois que um tal de Kandinsky deu um nó no seu cérebro.

Pôr-do-sol em Palmas

Iotti



sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O irônico apagar das luzes (homenagem repetida - momento Forest Gump)

(Por Cid Biavatti)

Na hora em que fiquei sabendo de sua morte, nem percebi direito o que estava acontecendo. A Dalva me ligou logo após falar com o José Roberto Romeira Abrahão (amigo e parceiro do Raul). Fiquei uns quinze minutos tentando acalmá-la. Na verdade estava tentando ganhar tempo. Procurava digerir melhor essa, não inesperada, mas surpreendente notícia. Nós, os amigos, há algum tempo sabíamos que o Raul estava chegando a um ponto de difícil retorno. Sua saúde estava muito debilitada e ele bebia muito. O diabetes estava piorando ainda mais sua aparência física. O inchaço de seu corpo era cada vez mais visível.
Como sua vida, também sua morte esteve às voltas com a ironia. Parece ter escrito algumas letras e fez questão de seguir a risca. Dizia que não esperaria a morte com a boca escancarada cheia de dentes. Algumas semanas antes de morrer arrancou todos os dentes. Em outra, alertava que só se iria entender o que falou no dia do eclipse. Dias antes, aconteceu o maior eclipse lunar do século. A Dalva o encontrou morto às 7 horas, provavelmente pouco depois da partida do trem, que segundo ele, era o último do sertão.
Raul se foi. Mas jamais deixará de existir sua imagem questionadora e irreverente. Na música “Canto Para Minha Morte”, ele pergunta: Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Creio que para alguém que diz ter nascido há 10 mil anos atrás, tempo para viver não faltou.

domingo, 16 de agosto de 2009

Devaneios


Mulher e homem.
Os cheiros se misturam,
se confundem.
Há esforço de ambas as partes.
Espásmos de vida.
Ela frágil, porem decidida.
Ele másculo e forte.
Vai e vem,
vai e vem.
O suor escorre pelos corpos.
Sentem-se cansados;
mas seguem, seguem,
seguem empurrando o automóvel pela rua.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sonhando com o cotovelo do universo!!!

Três noites seguidas sonhando com a chegada de et's. Cara, isso ta me deixando meio paranóico. Na primeira noite chegaram todos de uma vez. E com uma etezona enorme comandando...Tiro pra todo lado. Eu me escondendo atrás de pedra na chácara do Seu Zeferino (pior que tem pouca pedra por lá), e a etezona gritando algo entre o veneto e o castelhano. No fim me acharam escondido. Mas aí o despertador tocou e eu fiquei feliz por ter que acordar 6 horas da manhã. Nos outros dias, os sonhos foram meio repetitivos...Já tinha sonhado antes. Naves caíndo e nada de Will Smith fumando charuto ou Bill Pullman convocando todos os heróis humanos (norte americanos com sempre) para acabar com esses miseráveis et's. Apenas caíam e nem fogo pegavam... Os et's saíam tranquilos... Bem, enfim... Sonhos. Mesmo assim, procurei um dos meus grandes mestres, o astrólogo, tarólogo, astronômo e piloto de testes da NASA, professor Máximo Alado, para algumas explicações. Como astrólogo me disse que a conjunção dos astros, principalmente a passagem da lua por júpiter está mexendo com minha percepção dos reais motivos emocionais e abalando meu poder de decisão. Não entendi patavinas. Como tarólogo, disse que o louco estava aparecendo demais. Fui obrigado a chamá-lo pra um jogo de bisca. Já como astrônomo não disse nada que eu não saiba. Marte é vermelha, a terra é azul, a lua tem um lado escuro e que de vez em quando alguma coisa cai do céu (nem pra ser um bilhete com os números da loteria). Como piloto, só pilotando no espaço mesmo. Já bateu o carro 18 vezes. Continuei com a sensação de que ele, como todo bom funcionário da NASA, está escondendo alguma coisa. Como diriam os agentes Mulder e Scully, quem sabe a verdade está la fora.

Eu viajando...nas épocas da universidade...

terça-feira, 21 de julho de 2009

domingo, 19 de julho de 2009

Lembranças de sonhos MEUS

Vou atrás do céu
para onde ele for
Azul, cinza ou vermelho
Poente, nascente ou ausente
so sol serei cúmplice
do seu calor guardião
afagarei as manchas de luz
que teimem em se apagar

Vou atrás da onda
para onde ela for,
para o coral, para o recife
Azul, verde ou sem cor
maré alta, baixa ou media
da brisa serei amante
na tempestade de mar, de amor.

Vou atrás da duna,
não importa onde ela for parar.
Parar? O vento me transporta,
Amarela, invisível ou andante.
Da areia farei meu leito
E, leve então, poderei voar.

Vou atrás da lua,
Cheia, crescente ou minguante,
da nova vida que quero,
Pirata é que serei.
Dos mares secos desertos,
Prateado banho de luz.
Ao dragão não temerei.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 08 (teorizando o infinito)

Domingo. Nove e meia da manhã. Tomei um balaço (de cachaça) ontem e olha só quem aparece aqui em casa? Zio Tazza Piena, Zia Zoardina e o mala do primo Abrelino. Puta merda. Nunca na vida tinha pedido pra acordar de ressaca!!! O Caspita me aparece com um garrafão de (bom) vinho, metade de uma ovelha e meio saco de bergamota. Oggi è il giorno!!! Depois dos abraços e beijos nos tios (e dos cascudos no Abrelino), me mandei pra passar uma água na careca. Enquanto isso, o véio Tazza se ocupou logo em armar a churrasqueira e abrir o garrafão. Mas que vinho. O tio é bom em fazer vinho. Pelo menos isso, já que casar com a Tia Zoardina e fabricar o Abrelino pesam contra esta preciosa criatura. Fazer o que. Logo no primero copo de vinho, o maledeto do piá (gremista ainda por cima), chuta uma abóbora e me faz perder vinho. Ainda bem que não quebrou o copo. Dei um jeito rápido. Rolei a abóbora com muita perícia pros lados do copo de gasosinha do guri. Perfeito!!! Só não quebrou o copo do anjinho porque era de plástico. O Tio deu risada demais. Dever ter pensado: "Bem feito... Nunca derrame um bom vinho". O merdinha aprendeu a lição e foi brincar com a cachorrada. Depois de degustar tudo isso - vinho, ovelha, a maionese da Tia e bergamota, compreendi que passei una bella domenica. E ainda fui atendido tardiamente nas minhas preces: acordei segunda de ressaca...Deve ter sido a bergamota.

terça-feira, 7 de julho de 2009

O Irônico Apagar das Luzes (momento Forest Gump)


(Por Cid Biavatti)

Na hora em que fiquei sabendo de sua morte, nem percebi direito o que estava acontecendo. A Dalva me ligou logo após falar com o José Roberto Romeira Abrahão (amigo e parceiro do Raul). Fiquei uns quinze minutos tentando acalmá-la. Na verdade estava tentando ganhar tempo. Procurava digerir melhor essa, não inesperada, mas surpreendente notícia. Nós, os amigos, há algum tempo sabíamos que o Raul estava chegando a um ponto de difícil retorno. Sua saúde estava muito debilitada e ele bebia muito. O diabetes estava piorando ainda mais sua aparência física. O inchaço de seu corpo era cada vez mais visível.
Como sua vida, também sua morte esteve às voltas com a ironia. Parece ter escrito algumas letras e fez questão de seguir a risca. Dizia que não esperaria a morte com a boca escancarada cheia de dentes. Algumas semanas antes de morrer arrancou todos os dentes. Em outra, alertava que só se iria entender o que falou no dia do eclipse. Dias antes, aconteceu o maior eclipse lunar do século. A Dalva o encontrou morto às 7 horas, provavelmente pouco depois da partida do trem, que segundo ele, era o último do sertão.
Raul se foi. Mas jamais deixará de existir sua imagem questionadora e irreverente. Na música “Canto Para Minha Morte”, ele pergunta: Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Creio que para alguém que diz ter nascido há 10 mil anos atrás, tempo para viver não faltou.

No te va gustar...adoro essa banda

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Situações

Um baita susto, diria Naneta. Na verdade quem já não se assustou com a própria sombra. Mas, considerando que eram três e quase meia da madruga, sombra é só que se vê. Mania feia essa minha. Ou acorda cedo ou dorme tarde. Rotina. Tá. Vinha eu na certeza de abrir a porta da frente e ver de cara aquele céu estampado de estrelas. Soy un iluso. Nada vi!!! Putz, o céu estava escuro...Simplesmente. Nada de estrelas, lua, satélite, disco voador... Nada. Me invadiu uma tristeza impensável, um vazio, um silêncio que ecoava distante, se é que vocês me entendem. Desliguei a luz da sala...Uma penumbra única e contínua. Tudo escuro ao meu redor. Fui até a porta dos fundo, esbarrando em meus próprios pensamentos e medos. Coração acelerado, tempo preguiçoso, sombras. Nada de luz no fundo. Nada de estrelas. Em que poço ou fosso me meti, pensei alto, sem quebrar o silêncio. De verdade mesmo, torci pra amanhecer logo, sentado na porta de casa. Vendo essa sombra, que, agora sei, é minha, cobrindo tudo, manchando de negro as pontas das estrelas e o lado claro da lua. Foi como se o susto virasse dor. Uma dor assim, meio dor de dente meio orgulho ferido. Uma quase coceira, de ferida cicatrizando. Abri os olhos. O sol despontava sobre a Serra do Carmo, tingindo de vermelho as poucas nuvens no céu. É. O medo da própria sombra as vezes incomoda muito, pensei. Levantei, esquentei a água e fui tomar chimarrão.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 07 (o fio do filósofo)

Zio Tazza Piena... Me desculpe. A tia Zoardina me chamou de inconsequente. Disse que eu deveria relevar a estória do vinho. Me chamou de boca aberta. Aliás, o que esse xingamento significa? Passei a vida inteira sendo chamado de bocaberta mas nunca soube porque. Acho que nossa famiglia poderia esquecer esta história de reforma ortográfica e se xingar abertamente. Mande o português se lixar (não o da padaria, a língua) e continuemos com as palavras indecifráveis e vá a merda nossa boa educação. Chega de trema, papas na língua e sapinhos. Tu é o maior filósofo que conheci. Depois de Platão. Tá, Spinoza também conta. Olha, estuda muito... Tu ta perdendo espaço caspita. Cuidado com a mescola da tia. Manda minha graspa.
PS: Não fala nada pra tia, mas esse permenente dela está coisa de outro mundo.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 06 (o capim certo)

Ora ora Zio Tiazza Piena, fancullo!!! Contento? Bem, deixemos a discussão familiar de lado. Somos civilizados, embora descendentes do Império Romano. Fiz o que me recomendou na nossa última conversa. Tomei duas garrafas de Pinot Bianco... Deveria ter tentando uma borgonha. Ma va bene, rospo!!! Deu quase tudo errado. Fui pra beira da caverna e quase fui assado por um dragão brabo. O bom foi que tinha cerveja verde. Quase me fartei. Mas a conta foi alta. Agora to precisando de dinheiro. Platão mandou uns tais de neurônios me perseguirem. Pra cobrar a despesa. Mas estou com a impressão que eles ficaram lá... antes da entrada. Olha, acho que vou publicar tua foto. Aquela que tu tá com cara de bebado... Depois de ter apanhado da Tia Zoardina. Tu ta merecendo. Pra deixar de dar conselho errado. E manda logo aquela graspa que me prometeu.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sopa de Letrinhas


(Por Cid Biavatti)


O Rapaz entra no restaurante. Pega um cardápio no balcão e senta em uma mesa. Alguns instantes depois chama o garçom:

- Pois não?, fala o garçom.

- Que macarrão vocês usam nesta sopa?, pergunta o rapaz.

- Normalmente espaguete, mas hoje estamos sem espaguete. Responde o garçom.

- Então não tem sopa? Pergunta o rapaz.

- Infelizmente, o senhor sabe né, sem espaguete....

- Putz, mas não tem outro tipo de macarrão, qualquer tipo?

- Só tem macarrão de letrinha. Responde o garçom.

- De letrinha. Tá pode ser.

- Só um instante. Diz o garçom se afastando.

Depois de alguns instantes o garçom volta com um prato e coloca em frente ao rapaz.

- O senhor quer beber algo para acompanhar? Pergunta o garçom.

- Agora não obrigada, responde o rapaz.

O garçom se afasta novamente e em seguida volta com uma vasilha fumegante. É a sopa de letrinhas.

- Com licença, diz o garçom enquanto coloca a vasilha na mesa.

- Quer que o sirva? Continua o garçom.

- Que isso, não precisa se incomodar. Responde o rapaz.

- Não é incomodo algum, por favor permita-me. Completa o garçom, servindo o prato.

- Oh, obrigado, agradece o rapaz.

- Agora quer algo para beber? pergunta o garçom.

- Não.

O garçom se afasta. Depois de alguns instantes olhando a sopa o rapaz chama o garçom.

- Sim, diz o garçom.

- O que é isso no meu prato? Pergunta o rapaz.

- Onde?

- Aqui, ou é cego, responde o rapaz.

- Não vejo nada.

- O que está escrito nessa sopa? Pergunta o rapaz

- Eu não sei. Responde o garçom.

- Só pode ser analfabeto. Mas eu te ensino. Soletre comigo. N-A-T... diz o R

O garçom bate a mão na testa, como se não acreditando na cena.

- Natural Cola. Devia Ter percebido quanto me ofereceu tanto algo pra beber.

- O que tem a natural cola a ver com isso? Pergunta o G

- Ora. Na minha sopa tá escrito Natural Cola. Você me oferecendo bebidas. Golpe publicitário.

- Meu pai do céu, fala o garçom.

- Mas eles não me pegam mais nisso. Ah, eu sou capaz de apostar que tinha espaguete. Esse lance do macarrão, se oferecendo pra me servir...

- Escuta, o senhor vai tomar a sopa ou não? pergunta o garçom impaciente.

- Claro que não. Acha que sou maluco. Imagine o que pode se escrever lá no meu estomago. Já pensou se escrever úlcera e o negócio pega mesmo?

- Escute rapaz. Você tá bem novinho pra estar caduco. Então só deve estar tirando sarro da minha cara.

- Nem uma coisa nem outra. Só estou me protegendo de marcas famosas de refrigerante. Diz o rapaz

- Uff. Murmura garçom

- E de crápulas como o senhor. Completa o R.

O garçom se afasta irritado.

- Ei volte aqui. Grita o rapaz. - Achei o nome do restaurante escrito também.

Anti-heróis (tipinho 01)

Ele não se mistura...
Ele quer saber onde você está... apenas para não estar lá....
Ele detesta grupinhos...
Ele só confraterniza sozinho...
Ele é o....
ANTI-SOCIAL


terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Logo

Só para passar o tempo, resolvi criar um esboço acabado de logomarca para o blog.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Batalha “Ab Aeterno” (ou Os Trabalhos de Hércules)

(Por Cid Biavatti)

Os dias que se sucedem não são mais do que lembranças vagas. Ao acordar, Hércules só tem uma certeza: é preciso trabalhar. Deixa de lado as lamúrias, concentra o olhar no céu. Faz sua prece, instintivamente. Então vai a luta. Começa catar papel por ali mesmo. Isso de morar na rua tem lá suas vantagens. Trabalhar em casa é uma delas. Se não está enganado, este é o seu décimo segundo trabalho. Catar papel. Precisa achar uma caixa grande. Essa não vai vender. Está precisando de uma nova cama. Sobe a Avenida Voluntários da Pátria. Se sente assim. Um voluntário que dá tudo de si. Trabalha porque gosta. Se sente útil. Mais do que nunca a pátria precisa dele. Pelo menos foi isso que viu o presidente dizer outro dia. Lembra muito bem. Estava comendo um pão na Padaria Progresso. Lá sempre tem pão na lixeira do fundo. Às vezes com margarina.

Hércules sabe que é forte. Todo o dia vence uma batalha. Tem dentro de si o bem e o mal. Apenas uma vez se viu desesperado a ponto de deixar o mal quase lhe trair. Foi forte e devolveu o dinheiro encontrado ao verdadeiro dono. Ganhou cinco reais de recompensa. Mas isso não importa. O dinheiro não tem muito valor para ele. O que vale é estar vivo. O que conta mesmo é enganar o mal. Deixá-lo achar que triunfou, mesmo sem ter ganhado. Chegar ao fim de sua jornada diária e sentir-se realizado. Ter uma casa pra voltar. Com uma cama nova e um pão da Padaria Progresso.


Caça-Palavras

(Por Cid Biavatti)

Duas pessoas sentadas lado a lado (pode ser em uma sala de espera, um ônibus, etc.). O mais jovem (tipo entre 16 e 20 anos) pergunta ao senhor (40 anos) que está fazendo caça palavras em uma revista (ou jornal):
- O senhor percebeu como ultimamente os caça palavras estão carregados de mensagens subliminares?
O homem olha de canto olho e responde negativamente algo inaudível.
Depois de alguns instantes o rapaz aponta algo na revista para o homem:
- Gorgos .
- Ah? Pergunta o homem espantado.
- Galáxias em Transe. Responde o garoto.
- Como? Diz o homem cada vez mais sem entender nada.
- Os gorgos. Aquele povo narigudo da série Galáxias em Transe.
- O que tem estes tais de gorgos? Pergunta o homem.
- Aqui, no caça palavras está escrito gorgos, ou seja uma mensagem publicitária implícita. As pessoas mais desatentas como o senhor, com todo o respeito, nem percebem.
O homem apenas sacode a cabeça com ar de pouco caso.
- O senhor sabia que existe uma teoria bem aceita nos meios científicos de que os gorgos realmente existem? Diz o jovem alguns instantes mais tarde.
- Não. Responde o homem angustiado olhando para os lados
- Pois é. Dizem que eles estão entre nós, disfarçados de humanos. Completa o rapaz. - Cá entre nós, eu particularmente acho, ou melhor penso, que Woody Depardie é um deles.
- Quem? Instintivamente pergunta o homem em saber o que fazer.
- Depardie. O criador da série. Ou acha que os humanos estariam se ferrando a toa. Tem alguma coisa estranha por trás disso tudo.
- Putz, exclama o homem cada vez mais angustiado.
- E o melhor jeito de reconhecer um gorgo, segundo os estudiosos, é observando o nariz dele. Dizem que o Michael Jackson perdeu o nariz tentando esconder sua origem extraterrena. O senhor nunca reparou em algum vizinho ou colega de trabalho narigudo? Continua o garoto.
- Eu não... diz o homem desesperado.
- Humm... Olhando bem, o senhor é bem narigudo hein?
O homem não resiste mais e saí correndo e gritando.
Espantado o jovem comenta com uma senhora sentada próxima:
- Que sujeito estranho. A senhora sabia que esse comportamento é típico dos Gorgos?

Dominação


(Por Cid Biavatti)

Dizem que o Criador estava bastante preocupado. Uma das espécies que havia criado se rebelara e queria tomar o poder na terra. As notícias davam conta de que os macacos cortavam o rabo uns dos outros e estavam aprendendo a falar. E o que é pior. Falavam em várias línguas. Os membros erectus da espécie sobrepujavam os demais. Uma medida rápida e drástica deveria ser tomada. Exterminá-los ia contra os princípios do Criador. Sua função era criar, não destruir.
Durante cinco dias ELE tentou em vão achar uma solução plausível. No sexto dia acordou cedo e saiu a caminhar. Tão distraído estava, pisou em uma poça de lama. Olhou para seus pés. A princípio irritado. Depois um sorriso iluminou seu semblante. É lógico! Como não havia pensado nisso antes. Era só criar alguém com sapiência superior aos erectus. E assim foi feito. Com um punhado de argila, dali da poça mesmo, moldou um ser parecido com os macacos. Depois, com uma costela dessa nova criatura, criou a fêmea da recém nascida espécie. Vendo que havia feito um bom trabalho, os mandou à terra, para povoar o mundo.
O Criador confiava muito na habilidade político-argumentativa do homem, que era como havia batizado o novo animalzinho. – Logo dominarão os macacos, pensou. Ele só não contava com a capacidade de barganha dos macacos, que em pouco tempo convenceram o homem a usar gravata e dividir o poder. O homem estava tão feliz que resolveu retribuir a bondade do Criador. Criou Deus. Hoje, tem dias que o Criador pensa em desenvolver outra espécie e mandar para a terra. Por enquanto passa a maior parte do tempo sentado, ouvindo cânticos e sacudindo a cabeça.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Impensável


(Por Abaquar Biavatti)

Pra fora da vida, suja fachada
Sem brilho ou vitrine, nada
Buracos na rua
Pense caminhar assim:
Paisagem amorfa
Relógio parado
História ilusória
Sozinho em você
Você e você
Mofo
Você é você?
Sem vida, inventa
Com vida, inventa
Que vida inventa?
Em que era vive
Quem erra vive?
Ou vive quem erra
Que Dante segure a porta
Não gostei da festa
Vou entrar (que fria?)
Que medo do inverno
Ou seja lá que desculpa for
Não quero andar
Quando vou não fico
Se fico, não vôo
Salve treze badaladas.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Gangorra

(Por Cid "Abaquar" Biavatti)

Se fosse só correr para o abraço
Nada de comemoração
Se fosse o agasalho quente
Nada de sensação
Se fosse uma cara apenas
Cadê a admiração
Se fossemos apenas tristes
Comum a inanição
Se fosse tudo alegria
Nada verias pelo chão
Se fosse sol todo dia
Nada de teto com carvão
Se riso fosse alegria
Nervosa imaginação
Se tudo fosse por magia
Circo apenas armação
Se não fosse apenas um completo
Meio dois apenas ilusão.

PSPI - Partido Solidário com Políticos Indecisos


Sou dono, digo presidente de um partido político. O PSPI– Partido Solidário com Políticos Indecisos. Como o nome já diz, somos solidários com políticos que ainda não encontraram a ideologia ideal para prosseguir na vida pública, como legítimo representante do povo, blá blá blá. Agora, quero confessar algo. Está difícil manter a indecisão dos companheiros. Eles se decidem rápido e logo nos abandonam. Assim nosso número de filiados é pequeno e oscilante. Isso não é um desabafo. De maneira alguma... Mas como manter um partido se não conseguimos aumentar a indecisão de nossos filiados? Que se dane. Isso é um desabafo sim. Estou cansando. Nossa sede parece mais reunião de grupo de auto-ajuda. As pessoas, no caso políticos, vem, desabafam, bebem do nosso café (às vezes temos uísque de terceira), ouvem nossos planos para o futuro, se decidem e vão embora. Bereta, nosso secretário geral aposta que hoje no Brasil temos mais políticos indecisos do que eleitores na mesma situação. Porque, segundo ele, os eleitores sabem o que querem, embora sempre façam o contrário. Enfim, coisas da democracia. Já os políticos sabem muito bem o que querem, mas estão sempre indecisos sobre a melhor maneira de fazer, alcançar, pensar e o pior de tudo, em que galho ou partido se estabelecer. Se você se sensibilizou com este texto, infelizmente não poderá filiar-se ao PSPI. Se não se sensibilizou, pode rir. Quem ri por último, ou não entendeu a piada ou chegou atrasado. Agora, se você não tem uma opinião formada sobre isso tudo que foi exposto, nos visite. Teremos o maior prazer em orientá-lo. Nossa sede fica na Rua Cascatinha, s/nº, esquina com a Praça da Filial.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O assalto

- Ei amigo, que horas são, por favor?
- leve o que quiser mas me deixe vivo. Por favor.
- mas eu só quero saber as horas e...
- já disse, leve o que quiser.
- mas amigo, eu não sou ladrão.
-não? Que pena...
- como assim, que pena?
- é o seguinte. No bairro onde moro, todo cidadão de bem já foi assaltado. Sou o único que nunca fui. Ta pegando mal pro meu lado.
- humm.
- tive uma idéia. Você leva meu relógio e meu dinheiro. Assim, nós dois ficamos bem. Você não precisa mais parar ninguém na rua pra perguntar as horas e eu posso dizer que fui assaltado.
- grande idéia! (ar de deboche). E eu posso ser preso por isso. De maneira alguma cara, eu sou um cidadão de bem.
- e já foi assaltado?
- sim, duas vezes.
- Viu. É disso que eu estou falando. Como posso ser considerado um cidadão de bem se nunca fui assaltado?
- não. Sem chances.
- cara!!! Eu não vou fazer BO. É só pra contar pro pessoal.
- não. De maneira alguma (categórico). Não vou me envolver nisso.
- olha só. Você fica com o relógio. Tudo bem que seja vagabundo, o relógio claro. E o dinheiro fica como pagamento pelo favor.
- não, e solta meu braço.
- Pensa bem. Você ganha um relógio e mais, deixa ver quanto tenho na carteira, setenta e cinco reais. Quer saber. Pode levar a carteira também. É de couro.
- setenta e cinco, é?
- sim, mais uns cinqüenta do relógio. Ei, esse negócio de roubo dá dinheiro, hein?
- olha, tudo bem. Vou fazer só pra te ajudar. Meu Deus que maluquice.
- ok. Mas tem que parecer real.
- como assim?
- você faz de conta que está armado e me aborda.
- não!!! Me passa logo o relógio e o dinheiro. Pode ficar com a carteira.
- isso!!! Isso!!!, mas com mais segurança na voz.
- ei seu maluco. Passe logo antes que eu mude de idéia.
- não... assim não. Já viu ladrão mudar de idéia?
- é só modo de falar. Passa logo a grana e o relógio.
- isso me lembra uma piada...
- cara, para de falar e passa logo, senão perco o ônibus.
- ta bom... Agora me bata.
- não. Isso não estava no acordo.
- como vou dizer que fui assaltado se não tiver pelo menos um sinal de espancamento?
- ta bom. Com fui me meter nisso. Onde bato?
- que tal no olho?
- no olho não. Nas costelas.
- ta. Pode ser...
- la vai. POW.
- o que é isso? Isso não machuca nem formiga. Bate mais forte.
- Assim? PÁ!!!
- melhorou. Mais uma vez.
- já chega cara.
- não. Agora me de um chute. Pode ser na canela.
- você pediu. Lá vai.
- Ai, ai, ai, ai.
- Pode parar ai mesmo. É a policia.
- Caramba. Explica pra eles.
- Ai, ai,ai.
- no chão malandro e larga a arma.
- eu não estou armado. Isso não é o que vocês estão pensando. Eu só queria saber a hora.
- e pra isso tem que levar o relógio de um cidadão de bem e trabalhador?
- Ai, ai, ai!!!
- fala pra eles cara.
- não tente intimidar o cidadão. Barcelos, coloca o malandro no camburão.
- ei cara, explica pra eles, por favor.
- não tem nada que explicar aqui. Quem tem que se explicar é você. Pro delegado. Leva Barcelos. Direto pro DP.
- o cidadão quer ir ao hospital?
- não. Quero ir pra casa. Ei, amigo, são 21:35

Olha o buraco colega!!!

Via que não dava pra atravessar, mas minha mania de imaginar tudo sempre menor me fez seguir em frente. Pô, sem ofensas, mas aquilo era pior do que eu previra. Mas quando se chega ao meio da rua e o carro vem... Ou corre, pula ou simplesmente fecha o olho. Caramba, não sou chegado a isso. Mas fechei o olho. Nessas horas, de olho fechado, a pessoa imagina tudo. Pula, corre, chora e, na maioria das vezes espera. Cara, foi minha sorte. Como diria, de maneira um pouco modificada, Drumond, "Arrancaram a pedra do meio do caminho". Assim sobrou o buraco. E que buraco!!! Dava pra engolir o carro, o motorista (fora do carro), a sogra dele e a tia Alzira (a tia por questões pessoais que não vem ao caso agora). Não era um buraco. Era um rombo mesmo! Daqueles que só aparecem na vida da gente de quatro em quatro anos, sem alusões políticas, lógico.
Mas então, quando não senti impacto, dor ou o motorista xingando, abri o olho. E aí não vi nada. Nem cachorro na rua (apesar de a Matilde adorar me comparar a caninos). Tudo em silêncio. Absoluto silêncio. Puta merda!!! Morri, pensei na hora. Só falta chegar o Antonio Fagundes, representando um São Pedro de quinta categoria e me passar pito ainda. Seria melhor aparecer a Maitê Proença, diabinha, me chamando pra um churrasco. Desculpe, sou saudosista. Mas nada. Silêncio absoluto. Só o buraco na minha frente. Nada de carro, de motorista e sogra, tia Alzira (graças bom Deus). Olha, na hora pensei em me jogar no buraco, mas, como todo bom acomodado, pulei e fui me encontrar com a Matilde.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 05 (Ruminando )

Não sei o que me inspira mais, se o vinho, a cerveja ou as circunstâncias. Mas sempre consigo escrever melhor nesses momentos. Meu tio distante Tiazza Piena, me disse um dia que pensar de cabeça leve, assim sem um bom Pinot Bianco é quase pecado. Seria como se Platão escrevesse a Alegoria da Caverna sem conhecer sequer uma. Lógico, não vamos esperar que Platão fosse um espeleólago. Mas que ele entendia de alegorias isso sim. E de filosofia claro. Até um dia, no auge de meus delírios, lógico que apoiado por alguns pensadores mais malucos do que eu, consegui enxergar cinema nessa caverna descrita por Platão. Não um filme romântico cheio de beijos e flexões. Mas um romantismo limpo. Livre dessas tentativas de castração que nos impõe hoje a sociedade (nossos amores (im)possíveis principalmente). É ler, entender ou correr. Ou melhor, ver as sombras, aceita-las ou ir para o sol. Nesses dias, sinto que me tiraram a sombra. Então, prefiro ficar na boca da caverna. Quem sabe alguém me convida para a festa. Sempre há de existir um bom vinho pra se servir em confraternizações assim. Ou uma cerveja média. Ou quem sabe as circunstâncias sejam as melhores companheiras. E, tomara, nada de filmes românticos.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 04 (Dói mais no teu pé, podes crer!!! )

Muito gentilmente e depois de uma pequena pressão diplomática, o grande amigo e professor Extratino resolveu me ajudar sobre esse mês que está absolutamente perdido entre maio e marte. Cara, na verdade tudo começou em agosto. Esqueça maio. Isso não tem nada a ver com esse magnífico mês. Eu estava indo para casa, como sempre faço as duas da manhã (isso quando já não estou em casa, lógico). Mas, com sou ansioso até ao extremo, resolvi tomar uma cerveja verde (não falo a marca porque não acertei o valor do merchandising, ou do jabá, no popular). Olha só, nessa pequena parada, tudo mudou. Na verdade eu gostaria mais que a Ella Fitzgerald estivesse ali, cantando “Só danço samba”. Mas quem dançou fui eu. E nem foi um tango de Gardel. Tudo mais parecia uma música pseudo-romântica do Bruno e Marrone. Enfim, só faltou tridente cutucando a bunda. E lá estava tudo o que eu pensei ter exorcizado. A euforia véia de guerra, aquela que derruba Generais, começando pelos muros que os protegem, me passou uma rasteira. Pô, nem gosto de palavrão... Mas vai a merda!!! Joguei um mês fora e quase comprometo minha teoria. O diabo sempre sorri. Essa é outra teoria que vou defender e, se a universidade me deixar, será minha tese de Doutorado. E que dentes meu amigo!!! Bela Lugosi teria fechado a boca e procurado outro dentista se tivesse visto isso. Vampiro tem que ser assim. Bate os dentes no pescoço. Se a vítima se arrepiar, é sangue fraco. Sai e procura outra. Tipo sanguíneo O negativo é pra quem pode, modéstia a parte. Resumindo, já nascemos fodidos. E lá se vai um mês pelo ralo, aquele que teoricamente me colocaria nos eixos, como diria dona Iria. Mas nada como um RH negativo após o outro, pra nos forçar a bevere un'altra birrota. Ah, o professor Extratino me recomendou tomar um porre de vinho e no outro dia fazer uma deliciosa receita de Canelone de berinjela com ricota. Como acompanhamento, ele me recomendou vinho...muito vinho. Acho que o caspita não confia no meu taco mesmo.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 03 (Do cotovelo à boca do estômago)

Não é que estive convicto que tinha matado mais um mês? Mas, seus desocupados, para azar geral da nação estou com um sentimento meio estranho. Estou me sentindo acometido por uma espécie de transtorno bipolar. Às vezes sinto que vou precisar aumentar meu tempo de vida útil e bem vivida. Em outras palavras, esse mês parece estar quase sendo arrancado do restante do calendário. Entenderam? Não me refiro a qualquer fevereiro inconstante ou qualquer agosto ventoso, árido, sem vida e com todos os cachorros loucos do mundo mirando minha perna. É apenas um mês que não sabe se realmente quer existir. Minha tia Maricota, há 25 anos diria que minhas dúvidas são prosa de guri manhoso e desceria a vara de vime. Que é pra tomar jeito de homem. Bem, coisas da província. Segundo o livro Psicologia Aplicada à Culinária e aos Sentimentos Humanos, do professor, chef, pizzaiolo e comediante Extratino Pomodoro Rosso, esse sentimento está relacionado a um possível envolvimento emocional de cunho afetivo, com efeitos permanentes e duração indeterminada, ou seja, o amor. Mas também pode ser fome. É uma teoria interessante. Mas não me explica muita coisa. Só como preparar um delicioso ravióli com abóbora. Vou lá preparar e depois volto.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 02

Sempre me pedia para levá-la pra casa (a cerva). Sempre tínhamos ótimas conversas (a gelada). Cinco meses. Pergunte-se: como pode alguém incluir cinco meses nessa contagem maluca em homenagem à cerveja? Ora parceiro, ta certo que ela até já me passou algumas rasteiras... mas isso é coisa de amigo antigo. Entendeu? Ah, esquece. Voltando, resolvi viajar. Comprei uma passagem de ônibus, vesti minha roupa mais roots (sempre achei isso um termo exclusivo da galera CULT, mas vou usar sem constrangimento). Então, viajei por muitos e muitos dias. Parava, trocava de ônibus, dormia na rodoviária, conheci gente de todo o tipo. Até um gaúcho que dizia ser alemão. E só falava inglês. Putz, no meio do sertão, qualquer um pode se passar por aquilo que quiser. Não quis estragar o barato do cidadão e deixei ele com sua viagem. Rumo a Monique. Ou Novo Hamburgo, sei lá. Mas ele foi de ônibus, assim como eu. Deixei ele ir antes. E fui no rumo contrário. Essa viagem, que durou três anos, acrescentou três meses ótimos na minha existência. Agora, estou tentando terminar essa bosta de texto e encontrar mais três meses para finalizar minha tese. (Continuo tentando).

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 01

Vou relatar aqui rapidamente minha vida. Afinal não existe nada de muito importante pra ocupar muito tempo. E sinto que meu fim está próximo. Não sei como será, mas está perto agora. Destes meus trinta e três anos, talvez três mereçam atenção, assim, acumulados. Na infância só fiz merda... Literalmente. Eram 15 ou 20 trocadas de fraldas diariamente... Fora as mamadeiras derrubadas. Mas isso não é o mais importante. Não gastariam nem dois meses de minha curta história. Ainda bem que alguém limpava isso. Assim pude incluir nos anos bons. Bem depois, aos 12 anos, comecei a me interessar por coisas mais adultas. Meu tio Ostracino me disse um dia. Menino um dia você vai conhecer as verdadeiras drogas da vida. Quando perguntei que drogas seriam essas ele citou uma: casamento. Putz pensei... sempre achei a tia Rotirna bonita, mas diga-me, existe mulher feia pra quem tem 12 anos? Tudo em ebulição? Depois de alguns anos concordei com tio Ostracino. A tia Rotirna era mesmo estranha. Não feia, mas brigona, mandona e isso a deixava feia. Mais cinco meses. Depois disso me lembro que vale a pena contar uma coisa que me aconteceu aos dezenove anos. Isso mesmo. Consegui a carteira de motorista. Não é ótimo? Dirigia como se fosse o maioral. Fiz tudo de ilegal na direção. Triste dizer, mas entre bebedeiras ao volante, amassos dentro do fusca do véio e empurradas de carro sem partida... Lá se vão mais seis meses. Ótimos. Sei que estão pensando outras coisas que se pode fazer antes dos dezenove anos. Então vou voltar um ano. Ou quase. Sabe sexo? Pois é. Aconteceu. Não foi com a minha prima Graciosa. Ta bem que eu a olhava desde os treze. E ela também. Mas foi com Maria Meretrícia. Linda, morena, falsa magra, perfume de enlouquecer, suave, delicada. O que? Acham que me apaixonei por ela? Vou parar agora. Aliás, nem sei porque estou contando tudo isso. Vocês não fazem parte do meu mundo. Como muito tarde percebi não faziam parte as Anas, Anes, Inas e todos os outros finais de nomes femininos que passaram pela minha curta vida. Eu disse curta? Ha ha ha. Ironia. Gastei aqui, entre sexo, amor e desespero doze meses. Depois tudo ficou muito difícil. Quase voltei a minha infância (merda). Fora de casa, empregado, sobrevivendo, desempregado, vivendo, bebendo, fu..gindo de tudo e de todos. Meu time com dois vice campeonato seguidos. Mas existia a cerveja. Gelada, atenciosa. (to be continued)