sábado, 24 de janeiro de 2009

Gangorra

(Por Cid "Abaquar" Biavatti)

Se fosse só correr para o abraço
Nada de comemoração
Se fosse o agasalho quente
Nada de sensação
Se fosse uma cara apenas
Cadê a admiração
Se fossemos apenas tristes
Comum a inanição
Se fosse tudo alegria
Nada verias pelo chão
Se fosse sol todo dia
Nada de teto com carvão
Se riso fosse alegria
Nervosa imaginação
Se tudo fosse por magia
Circo apenas armação
Se não fosse apenas um completo
Meio dois apenas ilusão.

PSPI - Partido Solidário com Políticos Indecisos


Sou dono, digo presidente de um partido político. O PSPI– Partido Solidário com Políticos Indecisos. Como o nome já diz, somos solidários com políticos que ainda não encontraram a ideologia ideal para prosseguir na vida pública, como legítimo representante do povo, blá blá blá. Agora, quero confessar algo. Está difícil manter a indecisão dos companheiros. Eles se decidem rápido e logo nos abandonam. Assim nosso número de filiados é pequeno e oscilante. Isso não é um desabafo. De maneira alguma... Mas como manter um partido se não conseguimos aumentar a indecisão de nossos filiados? Que se dane. Isso é um desabafo sim. Estou cansando. Nossa sede parece mais reunião de grupo de auto-ajuda. As pessoas, no caso políticos, vem, desabafam, bebem do nosso café (às vezes temos uísque de terceira), ouvem nossos planos para o futuro, se decidem e vão embora. Bereta, nosso secretário geral aposta que hoje no Brasil temos mais políticos indecisos do que eleitores na mesma situação. Porque, segundo ele, os eleitores sabem o que querem, embora sempre façam o contrário. Enfim, coisas da democracia. Já os políticos sabem muito bem o que querem, mas estão sempre indecisos sobre a melhor maneira de fazer, alcançar, pensar e o pior de tudo, em que galho ou partido se estabelecer. Se você se sensibilizou com este texto, infelizmente não poderá filiar-se ao PSPI. Se não se sensibilizou, pode rir. Quem ri por último, ou não entendeu a piada ou chegou atrasado. Agora, se você não tem uma opinião formada sobre isso tudo que foi exposto, nos visite. Teremos o maior prazer em orientá-lo. Nossa sede fica na Rua Cascatinha, s/nº, esquina com a Praça da Filial.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O assalto

- Ei amigo, que horas são, por favor?
- leve o que quiser mas me deixe vivo. Por favor.
- mas eu só quero saber as horas e...
- já disse, leve o que quiser.
- mas amigo, eu não sou ladrão.
-não? Que pena...
- como assim, que pena?
- é o seguinte. No bairro onde moro, todo cidadão de bem já foi assaltado. Sou o único que nunca fui. Ta pegando mal pro meu lado.
- humm.
- tive uma idéia. Você leva meu relógio e meu dinheiro. Assim, nós dois ficamos bem. Você não precisa mais parar ninguém na rua pra perguntar as horas e eu posso dizer que fui assaltado.
- grande idéia! (ar de deboche). E eu posso ser preso por isso. De maneira alguma cara, eu sou um cidadão de bem.
- e já foi assaltado?
- sim, duas vezes.
- Viu. É disso que eu estou falando. Como posso ser considerado um cidadão de bem se nunca fui assaltado?
- não. Sem chances.
- cara!!! Eu não vou fazer BO. É só pra contar pro pessoal.
- não. De maneira alguma (categórico). Não vou me envolver nisso.
- olha só. Você fica com o relógio. Tudo bem que seja vagabundo, o relógio claro. E o dinheiro fica como pagamento pelo favor.
- não, e solta meu braço.
- Pensa bem. Você ganha um relógio e mais, deixa ver quanto tenho na carteira, setenta e cinco reais. Quer saber. Pode levar a carteira também. É de couro.
- setenta e cinco, é?
- sim, mais uns cinqüenta do relógio. Ei, esse negócio de roubo dá dinheiro, hein?
- olha, tudo bem. Vou fazer só pra te ajudar. Meu Deus que maluquice.
- ok. Mas tem que parecer real.
- como assim?
- você faz de conta que está armado e me aborda.
- não!!! Me passa logo o relógio e o dinheiro. Pode ficar com a carteira.
- isso!!! Isso!!!, mas com mais segurança na voz.
- ei seu maluco. Passe logo antes que eu mude de idéia.
- não... assim não. Já viu ladrão mudar de idéia?
- é só modo de falar. Passa logo a grana e o relógio.
- isso me lembra uma piada...
- cara, para de falar e passa logo, senão perco o ônibus.
- ta bom... Agora me bata.
- não. Isso não estava no acordo.
- como vou dizer que fui assaltado se não tiver pelo menos um sinal de espancamento?
- ta bom. Com fui me meter nisso. Onde bato?
- que tal no olho?
- no olho não. Nas costelas.
- ta. Pode ser...
- la vai. POW.
- o que é isso? Isso não machuca nem formiga. Bate mais forte.
- Assim? PÁ!!!
- melhorou. Mais uma vez.
- já chega cara.
- não. Agora me de um chute. Pode ser na canela.
- você pediu. Lá vai.
- Ai, ai, ai, ai.
- Pode parar ai mesmo. É a policia.
- Caramba. Explica pra eles.
- Ai, ai,ai.
- no chão malandro e larga a arma.
- eu não estou armado. Isso não é o que vocês estão pensando. Eu só queria saber a hora.
- e pra isso tem que levar o relógio de um cidadão de bem e trabalhador?
- Ai, ai, ai!!!
- fala pra eles cara.
- não tente intimidar o cidadão. Barcelos, coloca o malandro no camburão.
- ei cara, explica pra eles, por favor.
- não tem nada que explicar aqui. Quem tem que se explicar é você. Pro delegado. Leva Barcelos. Direto pro DP.
- o cidadão quer ir ao hospital?
- não. Quero ir pra casa. Ei, amigo, são 21:35

Olha o buraco colega!!!

Via que não dava pra atravessar, mas minha mania de imaginar tudo sempre menor me fez seguir em frente. Pô, sem ofensas, mas aquilo era pior do que eu previra. Mas quando se chega ao meio da rua e o carro vem... Ou corre, pula ou simplesmente fecha o olho. Caramba, não sou chegado a isso. Mas fechei o olho. Nessas horas, de olho fechado, a pessoa imagina tudo. Pula, corre, chora e, na maioria das vezes espera. Cara, foi minha sorte. Como diria, de maneira um pouco modificada, Drumond, "Arrancaram a pedra do meio do caminho". Assim sobrou o buraco. E que buraco!!! Dava pra engolir o carro, o motorista (fora do carro), a sogra dele e a tia Alzira (a tia por questões pessoais que não vem ao caso agora). Não era um buraco. Era um rombo mesmo! Daqueles que só aparecem na vida da gente de quatro em quatro anos, sem alusões políticas, lógico.
Mas então, quando não senti impacto, dor ou o motorista xingando, abri o olho. E aí não vi nada. Nem cachorro na rua (apesar de a Matilde adorar me comparar a caninos). Tudo em silêncio. Absoluto silêncio. Puta merda!!! Morri, pensei na hora. Só falta chegar o Antonio Fagundes, representando um São Pedro de quinta categoria e me passar pito ainda. Seria melhor aparecer a Maitê Proença, diabinha, me chamando pra um churrasco. Desculpe, sou saudosista. Mas nada. Silêncio absoluto. Só o buraco na minha frente. Nada de carro, de motorista e sogra, tia Alzira (graças bom Deus). Olha, na hora pensei em me jogar no buraco, mas, como todo bom acomodado, pulei e fui me encontrar com a Matilde.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 05 (Ruminando )

Não sei o que me inspira mais, se o vinho, a cerveja ou as circunstâncias. Mas sempre consigo escrever melhor nesses momentos. Meu tio distante Tiazza Piena, me disse um dia que pensar de cabeça leve, assim sem um bom Pinot Bianco é quase pecado. Seria como se Platão escrevesse a Alegoria da Caverna sem conhecer sequer uma. Lógico, não vamos esperar que Platão fosse um espeleólago. Mas que ele entendia de alegorias isso sim. E de filosofia claro. Até um dia, no auge de meus delírios, lógico que apoiado por alguns pensadores mais malucos do que eu, consegui enxergar cinema nessa caverna descrita por Platão. Não um filme romântico cheio de beijos e flexões. Mas um romantismo limpo. Livre dessas tentativas de castração que nos impõe hoje a sociedade (nossos amores (im)possíveis principalmente). É ler, entender ou correr. Ou melhor, ver as sombras, aceita-las ou ir para o sol. Nesses dias, sinto que me tiraram a sombra. Então, prefiro ficar na boca da caverna. Quem sabe alguém me convida para a festa. Sempre há de existir um bom vinho pra se servir em confraternizações assim. Ou uma cerveja média. Ou quem sabe as circunstâncias sejam as melhores companheiras. E, tomara, nada de filmes românticos.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 04 (Dói mais no teu pé, podes crer!!! )

Muito gentilmente e depois de uma pequena pressão diplomática, o grande amigo e professor Extratino resolveu me ajudar sobre esse mês que está absolutamente perdido entre maio e marte. Cara, na verdade tudo começou em agosto. Esqueça maio. Isso não tem nada a ver com esse magnífico mês. Eu estava indo para casa, como sempre faço as duas da manhã (isso quando já não estou em casa, lógico). Mas, com sou ansioso até ao extremo, resolvi tomar uma cerveja verde (não falo a marca porque não acertei o valor do merchandising, ou do jabá, no popular). Olha só, nessa pequena parada, tudo mudou. Na verdade eu gostaria mais que a Ella Fitzgerald estivesse ali, cantando “Só danço samba”. Mas quem dançou fui eu. E nem foi um tango de Gardel. Tudo mais parecia uma música pseudo-romântica do Bruno e Marrone. Enfim, só faltou tridente cutucando a bunda. E lá estava tudo o que eu pensei ter exorcizado. A euforia véia de guerra, aquela que derruba Generais, começando pelos muros que os protegem, me passou uma rasteira. Pô, nem gosto de palavrão... Mas vai a merda!!! Joguei um mês fora e quase comprometo minha teoria. O diabo sempre sorri. Essa é outra teoria que vou defender e, se a universidade me deixar, será minha tese de Doutorado. E que dentes meu amigo!!! Bela Lugosi teria fechado a boca e procurado outro dentista se tivesse visto isso. Vampiro tem que ser assim. Bate os dentes no pescoço. Se a vítima se arrepiar, é sangue fraco. Sai e procura outra. Tipo sanguíneo O negativo é pra quem pode, modéstia a parte. Resumindo, já nascemos fodidos. E lá se vai um mês pelo ralo, aquele que teoricamente me colocaria nos eixos, como diria dona Iria. Mas nada como um RH negativo após o outro, pra nos forçar a bevere un'altra birrota. Ah, o professor Extratino me recomendou tomar um porre de vinho e no outro dia fazer uma deliciosa receita de Canelone de berinjela com ricota. Como acompanhamento, ele me recomendou vinho...muito vinho. Acho que o caspita não confia no meu taco mesmo.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 03 (Do cotovelo à boca do estômago)

Não é que estive convicto que tinha matado mais um mês? Mas, seus desocupados, para azar geral da nação estou com um sentimento meio estranho. Estou me sentindo acometido por uma espécie de transtorno bipolar. Às vezes sinto que vou precisar aumentar meu tempo de vida útil e bem vivida. Em outras palavras, esse mês parece estar quase sendo arrancado do restante do calendário. Entenderam? Não me refiro a qualquer fevereiro inconstante ou qualquer agosto ventoso, árido, sem vida e com todos os cachorros loucos do mundo mirando minha perna. É apenas um mês que não sabe se realmente quer existir. Minha tia Maricota, há 25 anos diria que minhas dúvidas são prosa de guri manhoso e desceria a vara de vime. Que é pra tomar jeito de homem. Bem, coisas da província. Segundo o livro Psicologia Aplicada à Culinária e aos Sentimentos Humanos, do professor, chef, pizzaiolo e comediante Extratino Pomodoro Rosso, esse sentimento está relacionado a um possível envolvimento emocional de cunho afetivo, com efeitos permanentes e duração indeterminada, ou seja, o amor. Mas também pode ser fome. É uma teoria interessante. Mas não me explica muita coisa. Só como preparar um delicioso ravióli com abóbora. Vou lá preparar e depois volto.

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 02

Sempre me pedia para levá-la pra casa (a cerva). Sempre tínhamos ótimas conversas (a gelada). Cinco meses. Pergunte-se: como pode alguém incluir cinco meses nessa contagem maluca em homenagem à cerveja? Ora parceiro, ta certo que ela até já me passou algumas rasteiras... mas isso é coisa de amigo antigo. Entendeu? Ah, esquece. Voltando, resolvi viajar. Comprei uma passagem de ônibus, vesti minha roupa mais roots (sempre achei isso um termo exclusivo da galera CULT, mas vou usar sem constrangimento). Então, viajei por muitos e muitos dias. Parava, trocava de ônibus, dormia na rodoviária, conheci gente de todo o tipo. Até um gaúcho que dizia ser alemão. E só falava inglês. Putz, no meio do sertão, qualquer um pode se passar por aquilo que quiser. Não quis estragar o barato do cidadão e deixei ele com sua viagem. Rumo a Monique. Ou Novo Hamburgo, sei lá. Mas ele foi de ônibus, assim como eu. Deixei ele ir antes. E fui no rumo contrário. Essa viagem, que durou três anos, acrescentou três meses ótimos na minha existência. Agora, estou tentando terminar essa bosta de texto e encontrar mais três meses para finalizar minha tese. (Continuo tentando).

Quase acerto - mas foi so o cotovelo - Parte 01

Vou relatar aqui rapidamente minha vida. Afinal não existe nada de muito importante pra ocupar muito tempo. E sinto que meu fim está próximo. Não sei como será, mas está perto agora. Destes meus trinta e três anos, talvez três mereçam atenção, assim, acumulados. Na infância só fiz merda... Literalmente. Eram 15 ou 20 trocadas de fraldas diariamente... Fora as mamadeiras derrubadas. Mas isso não é o mais importante. Não gastariam nem dois meses de minha curta história. Ainda bem que alguém limpava isso. Assim pude incluir nos anos bons. Bem depois, aos 12 anos, comecei a me interessar por coisas mais adultas. Meu tio Ostracino me disse um dia. Menino um dia você vai conhecer as verdadeiras drogas da vida. Quando perguntei que drogas seriam essas ele citou uma: casamento. Putz pensei... sempre achei a tia Rotirna bonita, mas diga-me, existe mulher feia pra quem tem 12 anos? Tudo em ebulição? Depois de alguns anos concordei com tio Ostracino. A tia Rotirna era mesmo estranha. Não feia, mas brigona, mandona e isso a deixava feia. Mais cinco meses. Depois disso me lembro que vale a pena contar uma coisa que me aconteceu aos dezenove anos. Isso mesmo. Consegui a carteira de motorista. Não é ótimo? Dirigia como se fosse o maioral. Fiz tudo de ilegal na direção. Triste dizer, mas entre bebedeiras ao volante, amassos dentro do fusca do véio e empurradas de carro sem partida... Lá se vão mais seis meses. Ótimos. Sei que estão pensando outras coisas que se pode fazer antes dos dezenove anos. Então vou voltar um ano. Ou quase. Sabe sexo? Pois é. Aconteceu. Não foi com a minha prima Graciosa. Ta bem que eu a olhava desde os treze. E ela também. Mas foi com Maria Meretrícia. Linda, morena, falsa magra, perfume de enlouquecer, suave, delicada. O que? Acham que me apaixonei por ela? Vou parar agora. Aliás, nem sei porque estou contando tudo isso. Vocês não fazem parte do meu mundo. Como muito tarde percebi não faziam parte as Anas, Anes, Inas e todos os outros finais de nomes femininos que passaram pela minha curta vida. Eu disse curta? Ha ha ha. Ironia. Gastei aqui, entre sexo, amor e desespero doze meses. Depois tudo ficou muito difícil. Quase voltei a minha infância (merda). Fora de casa, empregado, sobrevivendo, desempregado, vivendo, bebendo, fu..gindo de tudo e de todos. Meu time com dois vice campeonato seguidos. Mas existia a cerveja. Gelada, atenciosa. (to be continued)