quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sopa de Letrinhas


(Por Cid Biavatti)


O Rapaz entra no restaurante. Pega um cardápio no balcão e senta em uma mesa. Alguns instantes depois chama o garçom:

- Pois não?, fala o garçom.

- Que macarrão vocês usam nesta sopa?, pergunta o rapaz.

- Normalmente espaguete, mas hoje estamos sem espaguete. Responde o garçom.

- Então não tem sopa? Pergunta o rapaz.

- Infelizmente, o senhor sabe né, sem espaguete....

- Putz, mas não tem outro tipo de macarrão, qualquer tipo?

- Só tem macarrão de letrinha. Responde o garçom.

- De letrinha. Tá pode ser.

- Só um instante. Diz o garçom se afastando.

Depois de alguns instantes o garçom volta com um prato e coloca em frente ao rapaz.

- O senhor quer beber algo para acompanhar? Pergunta o garçom.

- Agora não obrigada, responde o rapaz.

O garçom se afasta novamente e em seguida volta com uma vasilha fumegante. É a sopa de letrinhas.

- Com licença, diz o garçom enquanto coloca a vasilha na mesa.

- Quer que o sirva? Continua o garçom.

- Que isso, não precisa se incomodar. Responde o rapaz.

- Não é incomodo algum, por favor permita-me. Completa o garçom, servindo o prato.

- Oh, obrigado, agradece o rapaz.

- Agora quer algo para beber? pergunta o garçom.

- Não.

O garçom se afasta. Depois de alguns instantes olhando a sopa o rapaz chama o garçom.

- Sim, diz o garçom.

- O que é isso no meu prato? Pergunta o rapaz.

- Onde?

- Aqui, ou é cego, responde o rapaz.

- Não vejo nada.

- O que está escrito nessa sopa? Pergunta o rapaz

- Eu não sei. Responde o garçom.

- Só pode ser analfabeto. Mas eu te ensino. Soletre comigo. N-A-T... diz o R

O garçom bate a mão na testa, como se não acreditando na cena.

- Natural Cola. Devia Ter percebido quanto me ofereceu tanto algo pra beber.

- O que tem a natural cola a ver com isso? Pergunta o G

- Ora. Na minha sopa tá escrito Natural Cola. Você me oferecendo bebidas. Golpe publicitário.

- Meu pai do céu, fala o garçom.

- Mas eles não me pegam mais nisso. Ah, eu sou capaz de apostar que tinha espaguete. Esse lance do macarrão, se oferecendo pra me servir...

- Escuta, o senhor vai tomar a sopa ou não? pergunta o garçom impaciente.

- Claro que não. Acha que sou maluco. Imagine o que pode se escrever lá no meu estomago. Já pensou se escrever úlcera e o negócio pega mesmo?

- Escute rapaz. Você tá bem novinho pra estar caduco. Então só deve estar tirando sarro da minha cara.

- Nem uma coisa nem outra. Só estou me protegendo de marcas famosas de refrigerante. Diz o rapaz

- Uff. Murmura garçom

- E de crápulas como o senhor. Completa o R.

O garçom se afasta irritado.

- Ei volte aqui. Grita o rapaz. - Achei o nome do restaurante escrito também.

Anti-heróis (tipinho 01)

Ele não se mistura...
Ele quer saber onde você está... apenas para não estar lá....
Ele detesta grupinhos...
Ele só confraterniza sozinho...
Ele é o....
ANTI-SOCIAL


terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Logo

Só para passar o tempo, resolvi criar um esboço acabado de logomarca para o blog.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Batalha “Ab Aeterno” (ou Os Trabalhos de Hércules)

(Por Cid Biavatti)

Os dias que se sucedem não são mais do que lembranças vagas. Ao acordar, Hércules só tem uma certeza: é preciso trabalhar. Deixa de lado as lamúrias, concentra o olhar no céu. Faz sua prece, instintivamente. Então vai a luta. Começa catar papel por ali mesmo. Isso de morar na rua tem lá suas vantagens. Trabalhar em casa é uma delas. Se não está enganado, este é o seu décimo segundo trabalho. Catar papel. Precisa achar uma caixa grande. Essa não vai vender. Está precisando de uma nova cama. Sobe a Avenida Voluntários da Pátria. Se sente assim. Um voluntário que dá tudo de si. Trabalha porque gosta. Se sente útil. Mais do que nunca a pátria precisa dele. Pelo menos foi isso que viu o presidente dizer outro dia. Lembra muito bem. Estava comendo um pão na Padaria Progresso. Lá sempre tem pão na lixeira do fundo. Às vezes com margarina.

Hércules sabe que é forte. Todo o dia vence uma batalha. Tem dentro de si o bem e o mal. Apenas uma vez se viu desesperado a ponto de deixar o mal quase lhe trair. Foi forte e devolveu o dinheiro encontrado ao verdadeiro dono. Ganhou cinco reais de recompensa. Mas isso não importa. O dinheiro não tem muito valor para ele. O que vale é estar vivo. O que conta mesmo é enganar o mal. Deixá-lo achar que triunfou, mesmo sem ter ganhado. Chegar ao fim de sua jornada diária e sentir-se realizado. Ter uma casa pra voltar. Com uma cama nova e um pão da Padaria Progresso.


Caça-Palavras

(Por Cid Biavatti)

Duas pessoas sentadas lado a lado (pode ser em uma sala de espera, um ônibus, etc.). O mais jovem (tipo entre 16 e 20 anos) pergunta ao senhor (40 anos) que está fazendo caça palavras em uma revista (ou jornal):
- O senhor percebeu como ultimamente os caça palavras estão carregados de mensagens subliminares?
O homem olha de canto olho e responde negativamente algo inaudível.
Depois de alguns instantes o rapaz aponta algo na revista para o homem:
- Gorgos .
- Ah? Pergunta o homem espantado.
- Galáxias em Transe. Responde o garoto.
- Como? Diz o homem cada vez mais sem entender nada.
- Os gorgos. Aquele povo narigudo da série Galáxias em Transe.
- O que tem estes tais de gorgos? Pergunta o homem.
- Aqui, no caça palavras está escrito gorgos, ou seja uma mensagem publicitária implícita. As pessoas mais desatentas como o senhor, com todo o respeito, nem percebem.
O homem apenas sacode a cabeça com ar de pouco caso.
- O senhor sabia que existe uma teoria bem aceita nos meios científicos de que os gorgos realmente existem? Diz o jovem alguns instantes mais tarde.
- Não. Responde o homem angustiado olhando para os lados
- Pois é. Dizem que eles estão entre nós, disfarçados de humanos. Completa o rapaz. - Cá entre nós, eu particularmente acho, ou melhor penso, que Woody Depardie é um deles.
- Quem? Instintivamente pergunta o homem em saber o que fazer.
- Depardie. O criador da série. Ou acha que os humanos estariam se ferrando a toa. Tem alguma coisa estranha por trás disso tudo.
- Putz, exclama o homem cada vez mais angustiado.
- E o melhor jeito de reconhecer um gorgo, segundo os estudiosos, é observando o nariz dele. Dizem que o Michael Jackson perdeu o nariz tentando esconder sua origem extraterrena. O senhor nunca reparou em algum vizinho ou colega de trabalho narigudo? Continua o garoto.
- Eu não... diz o homem desesperado.
- Humm... Olhando bem, o senhor é bem narigudo hein?
O homem não resiste mais e saí correndo e gritando.
Espantado o jovem comenta com uma senhora sentada próxima:
- Que sujeito estranho. A senhora sabia que esse comportamento é típico dos Gorgos?

Dominação


(Por Cid Biavatti)

Dizem que o Criador estava bastante preocupado. Uma das espécies que havia criado se rebelara e queria tomar o poder na terra. As notícias davam conta de que os macacos cortavam o rabo uns dos outros e estavam aprendendo a falar. E o que é pior. Falavam em várias línguas. Os membros erectus da espécie sobrepujavam os demais. Uma medida rápida e drástica deveria ser tomada. Exterminá-los ia contra os princípios do Criador. Sua função era criar, não destruir.
Durante cinco dias ELE tentou em vão achar uma solução plausível. No sexto dia acordou cedo e saiu a caminhar. Tão distraído estava, pisou em uma poça de lama. Olhou para seus pés. A princípio irritado. Depois um sorriso iluminou seu semblante. É lógico! Como não havia pensado nisso antes. Era só criar alguém com sapiência superior aos erectus. E assim foi feito. Com um punhado de argila, dali da poça mesmo, moldou um ser parecido com os macacos. Depois, com uma costela dessa nova criatura, criou a fêmea da recém nascida espécie. Vendo que havia feito um bom trabalho, os mandou à terra, para povoar o mundo.
O Criador confiava muito na habilidade político-argumentativa do homem, que era como havia batizado o novo animalzinho. – Logo dominarão os macacos, pensou. Ele só não contava com a capacidade de barganha dos macacos, que em pouco tempo convenceram o homem a usar gravata e dividir o poder. O homem estava tão feliz que resolveu retribuir a bondade do Criador. Criou Deus. Hoje, tem dias que o Criador pensa em desenvolver outra espécie e mandar para a terra. Por enquanto passa a maior parte do tempo sentado, ouvindo cânticos e sacudindo a cabeça.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Impensável


(Por Abaquar Biavatti)

Pra fora da vida, suja fachada
Sem brilho ou vitrine, nada
Buracos na rua
Pense caminhar assim:
Paisagem amorfa
Relógio parado
História ilusória
Sozinho em você
Você e você
Mofo
Você é você?
Sem vida, inventa
Com vida, inventa
Que vida inventa?
Em que era vive
Quem erra vive?
Ou vive quem erra
Que Dante segure a porta
Não gostei da festa
Vou entrar (que fria?)
Que medo do inverno
Ou seja lá que desculpa for
Não quero andar
Quando vou não fico
Se fico, não vôo
Salve treze badaladas.