domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Batalha “Ab Aeterno” (ou Os Trabalhos de Hércules)

(Por Cid Biavatti)

Os dias que se sucedem não são mais do que lembranças vagas. Ao acordar, Hércules só tem uma certeza: é preciso trabalhar. Deixa de lado as lamúrias, concentra o olhar no céu. Faz sua prece, instintivamente. Então vai a luta. Começa catar papel por ali mesmo. Isso de morar na rua tem lá suas vantagens. Trabalhar em casa é uma delas. Se não está enganado, este é o seu décimo segundo trabalho. Catar papel. Precisa achar uma caixa grande. Essa não vai vender. Está precisando de uma nova cama. Sobe a Avenida Voluntários da Pátria. Se sente assim. Um voluntário que dá tudo de si. Trabalha porque gosta. Se sente útil. Mais do que nunca a pátria precisa dele. Pelo menos foi isso que viu o presidente dizer outro dia. Lembra muito bem. Estava comendo um pão na Padaria Progresso. Lá sempre tem pão na lixeira do fundo. Às vezes com margarina.

Hércules sabe que é forte. Todo o dia vence uma batalha. Tem dentro de si o bem e o mal. Apenas uma vez se viu desesperado a ponto de deixar o mal quase lhe trair. Foi forte e devolveu o dinheiro encontrado ao verdadeiro dono. Ganhou cinco reais de recompensa. Mas isso não importa. O dinheiro não tem muito valor para ele. O que vale é estar vivo. O que conta mesmo é enganar o mal. Deixá-lo achar que triunfou, mesmo sem ter ganhado. Chegar ao fim de sua jornada diária e sentir-se realizado. Ter uma casa pra voltar. Com uma cama nova e um pão da Padaria Progresso.


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