quarta-feira, 31 de março de 2010

Sou eu, mais que você...


Ainda que fosse uma beirada..uma saudade mal vivida
...ainda assim seria vida...de posse uma saudade...
uma lembrança...posteridade...liberdade...
ou então um lamentar...depois

mas mesmo assim seria sonhar
riria... ao acordar e ponto
sou frio, um rio de pura certeza
convirjo...conspiro contra tristeza

da mata, sou a sombra
assombro esse meu pequeno pesar
queria ter na noite a certeza
mas pena: princesa apenas no contar.

uma certa leveza me leva
tão longe...ironia
de tarde..sozinho me assombro
me somas...incerta...assim seremos, e só

terça-feira, 30 de março de 2010

Inevitável tempo... Suportável espaço...


Meu soluço é minha barba por fazer,
como cresce, como fica branca,
minha sorte é ver o dia nascer
forte, cegante sol.

Sou depois, apenas menino
subindo a ladeira para o trabalho
cascalho, nas horas dificeis
areia por horas e horas cobrindo meus pés, relaxo

Uma restia de chuva me atinge
um pingo da mais bela sorte
ah, chuva que lava este limo
que deixa mais pura minh'alma

Empurra esta lama pra baixo,
arranca este barro dos pés,
lava esta alva cabeça
impõe à esta alma a fé.

Sorrindo me lembro da noite,
quando isto tudo senti,
rima fácil, insônia de amarga saudade.
Rascunhos que jamais escrevi.

segunda-feira, 29 de março de 2010

É um tijolo... É uma parede...

Cansei de olhar aquelas casas velhas, descascadas pelo tempo. Aquelas construções antigas com cara de mofo. Sentado, sobre velhos muros cobertos de cinza e musgo. Uma tentação à melancolia, um ambiente quase bucólico. São heranças de tempos imemoráveis. Memórias perdidas por entre corredores escuros e becos sombrios. Quantas mágoas guardadas. Angústias escondidas em falsos conformismos. Que tinta tinge essas paredes e completa a textura desta tela mal pintada? As vidas de que se apoderou este lugar, agora são meras caricaturas. Despejos que o tempo se encarregou de arrastar, junto com as águas das inúmeras enchentes que este pequeno riacho suportou. Até ser encurralado e encarcerado em seu leito, onde nem a luz do sol o possa atingir. Este pequeno curso d’água. De água cinza e malcheirosa. Ele que sabia todos os segredos. Que via silencioso todo o desenrolar da vida deste ingrato lugar. Que perfumava suas margens com o aroma da liberdade. É mais um elemento cinza. Como tudo é cinza. Perdeu-se a criatividade, a felicidade ou apenas ficamos presos neste labirinto de cantos escuros. Mecânicos. Somos seres mecânicos. Querendo contar história, sem coragem de fazer.
Vejo este desabafo como a fumaça daquelas chaminés lá adiante. Um revolto redemoinho cinza em direção ao céu, que vira névoa, vira nuvem e perde a identidade. Agora, o que se apodera de mim não é revolta. Antes um alento. É preciso mudar as cores, pintar as casas e arrancar o regato de sua reclusão. Encontrar as memórias e mantê-las vivas. E matar apenas o mofo.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Dizem os antigos...

Dizem os antigos (ou terei sonhado), que quando o náufrago quer se afogar, constrói um barco. Verdade pura. Nua e crua como as cheinhas do Botero. Mas, existe sempre um porém nas grandes navegações. Quando Colombo, por pura teimosia (ou por ter informações privilegiadas como alguns membros do governo), resolveu que descobriria o Novo Continente, não sabia o tamanho da encrenca que iria enfrentar. Mas ele veio, assim dizem os livros de história, e apesar do grande feito, viu sua descoberta se chamar América, ou invés de Colômbia. Se bem que ele recebeu essa homenagem depois. Mas, digamos, é como ter sido eleito presidente do país e ter que trabalhar no congresso. Então, um dia desses sem mais nada para fazer, resolvi me aventurar no mundo das descobertas. Meu primeiro impulso foi procurar um antigo professor. Trata-se de nada mais nada menos que Timonieri Cosa Fatta, professor de história, cantor, poeta e síndico. Diz ele que um de seus maiores feitos foi descobrir uma pequena ilha, que ele batizou de Piccola Sardenha. A ilha é tão pequena e difícil de achar que nunca mais foi encontrada. Dizem até que era cercada de pedras ao invés de água. Bem, que seja. Mas meu interesse em Timonieri não diz respeito ao seu grande conhecimento náutico. É que ele, como cantor e poeta sempre escreveu belíssimas canções românticas (italianas). É dele a famosíssima canção Senza Brache, Senza Donna ma Felice. Tá. Qual minha dúvida com o professor: Como descobrir o amor de uma mulher. Ele disse que essa informação podia custar caro. Principalmente se eu assimilasse o que ele me ensinaria. Aí ele não poderia fazer mais nada. Mas mesmo assim, depois de me fazer tomar três garrafas de vinho com ele pra relaxar (eu, porque ele ficou completamente bêbado), me disse que "as mulheres são as descobertas mais difíceis. Não agora que andam com poucos trapos sobre o corpo. Mas normalmente são como as pequenas ilhas no oceano, lindas. Mas dá um trabalho tornar habitável". Depois disso, levantou, discutiu com o garçom, com o espelho foi embora e me deixou a conta toda.

quarta-feira, 24 de março de 2010

More, ou mais...

- Horas?
- Hein???
- Tem horas?
- Sim... Agora mesmo vou ao dentista!
- Não!!! Tem horas aí???
- Tenho sim!!! Amigo, poxa... Acordo às seis, academia...depois deixo as crianças na escola..volto e tomo café...aí vou pro trabalho...uns três quarteirões de casa... mas sabe hora é hora!!!
- Amigoooo!!!! Por favor que horas são????
- Ah!!! Quer saber as horas!!!
- Isso......
- Aqui duas e vinte.
- Porque aqui???
- Do outro lado da linha é mais que onze...
- Linha??? Horas??? Onze???
- Oras meu amigo...paralela...Oras sem agá mesmo...Não de orar...apenas expressão...
- Que expressão??? Tipo amar sem agá e há mar com agá e tudo???
- Sabe nadar???
- Sim...ou não...
- Então...mergulha...ou surfa... more, com inglês e tudo.

Ferrolho

Não era coisa rotineira. Sinceramente a primeira vez. E olha que em meus doze anos de “experiência” já passei por situações bastante incomuns. Como daquela vez em que um desesperado dono trouxe seu cachorro:

- Não quer mais falar meu nome, disse o cara.

Ora, é difícil convencer um rotwailler a falar quando não quer.

Essa minha profissão, misto de detetive e psicólogo bem poderia ser mais agitada. Picareta, sei bem, me alcunhavam as vizinhas tricoteiras mal amadas. Se fossem vinte netos mais novas resolveria essa questão.

Um dia, lá estava, sentado em meu escritório, na verdade um cômodo que também é quarto, sala, cozinha e cemitério. Tranquilamente olhava algumas fotos de uma cliente. Por mim já tinha encerrado o caso. Mas sabe como é. Alguns clientes são insistentes. Foi quando ela entrou e parou em minha frente como se olhasse para o nada.

- Oi.

- Oi.

Ela sorriu por um instante.

- Quem é o proprietário? Perguntou.

Nunca conheci o dono do cômodo - na verdade só tomava conta.

- Pois não? Em que posso ajudar?

- Não sei. Estava passando e vi a placa. Fiquei curiosa.

- Ah! O letreiro. Bem já era para ter substituído. Desculpe não trabalhamos mais com adivinhações. Ela riu.

- Vidas passadas – me disse.

- Como? Indaguei.

- Nada. Estou precisando conversar – começou a me olhar estranho.

- Você não é o ... Realmente não me era estranha, agora olhando com mais calma.

- Não, respondi sorrindo. Ela riu. A janela se abriu.

- Sente-se, por favor, só então percebi que ainda estava em pé.

- Poderia me ajudar? Perguntei.

- Sim - ela disse olhando fundo em meus olhos.

- Quem é você? Perguntei.

Riu gostoso mais uma vez.

- Você não é detetive?

- Não. Sou picareta. Rimos os dois ao mesmo tempo. De novo a janela.

- Estou atrás de uma historia, me disse, - uma história legal. Levantei.

- Tenho algumas interessantes aqui na estante...

- Quero a sua, respondeu rápido.

Ri sem graça.

- Não entendi.

- Poderia abrir o armário?

- Não sei. É perigoso – nunca abrira o armário. Sabe-se lá o que teria dentro.

Parei por um instante. Virei-me para ela. O mesmo sorriso.

- Qual seu nome mesmo?

- Pode me chamar de Dona.

- Com um ou dois “enes”?

- Escreve como fala, respondeu rindo.

- Muito bem senhora Dona.

- Apenas Dona – retrucou.

Caminhei até a janela. Tentei fechar. Estava emperrada.

- Este vento... falei meio sem graça pelo meu insucesso.

- Às vezes trás boas situações, falou olhando para fora.

Fechei as cortinas. A claridade me incomoda.

- Por que quer minha história?

- Não existe sua história. Estou aqui agora contigo então a história também é minha – respondeu, agora séria.

Tinha razão. As historias são pedaços, são caminhos que se cruzam. No momento estávamos na mesma história. O telefone. Ela atende.

- Alô! Um momento por favor - É pra você.

Dona me alcança o telefone. Era a cliente das fotos. Queria saber sobra uma história. Que dia.

- Minha senhora, não há mais nada a acrescentar ao caso. Se não estiver satisfeita procure outro profissional... Sim, não sou um bom profissional, mas pelo preço está ótimo, não? Tudo bem não precisa pagar. Só não difame, por favor!!!

Desligo o telefone. Nossa história acaba aqui, pensei.

Dona está sentada sobre a mesa. – o que tem em seu sorriso? Por que quer minha história? Será um caso muito complicado?

Ela começa a rir.

- Sou enigmática? Pergunta.

- Como?

- Todas essas perguntas.

- Como sabe em que estou pensando?

- Seu rosto é muito transparente – a cortina abre.

- Preciso ir.

- Por favor, fique um pouco mais – quase imploro.

- Eu volto.

Sai sorrindo, um sorriso triste agora. Quase choro. A porta se fecha, a janela bate, o telefone toca. Deixo tudo como está. O armário. Penso em abrir. Descubro então que não está trancado. Puxo a porta. Livros. Muitos livros. Não tem espaço pra mais nada. São livros de história. Livros velhos, empoeirados. Com exceção de um: “ A Dona História”. Novinho. Parece recém-impresso. Começo a folhear. Algumas páginas escritas, o resto em branco. Fecho o livro. Fecho o armário. Então é isso. Vou esperar ela voltar para completar o livro. Sento e olho para a porta.

Nem tenho noção do tempo que se passou. Nunca mais tive um cliente. Só a esperança de um dia preencher aquelas páginas.


quarta-feira, 17 de março de 2010

Revelações (ou seria inspiração?)

Desenhei a minha estrada.
Tracei o meu desejo.
Escolhi a minha história,
Guiei-me pelo seu beijo.

Vejo o sol sair de novo,
Até senti o seu calor.
Pela cor da sua pele
Libertei-me desta dor.

Como vou chorar agora?
Te tenho, é o que importa.
Ironia – lembrar tristeza,

Se à alegria me transportas.